Mulher da página 194
 Ela  é loira e Linda. Tem 30 anos. Modelo profissional. Saiu na última  edição da revista Americana Glamour ilustrando uma reportagem sobre  autoimagem, e foi o que bastou para causar um rebuliço nos Estados  Unidos... A revista recebeu milhares de cartas e e-mails. Razão: a  barriga saliente da moça. Teor das mensagens: alívio. Uma mulher com um  corpo real. 
 Não  sei se Lizzie Miller, que ficou conhecida como a mulher da página 194,  já teve filhos, provavelmente, devido à idade que tem. 
 Nós  que temos conhecemos bem aquela dobrinha que se forma ao sentar. E  mesmo quem não teve conhece também, bastando para isso pesar um pouco  mais do que 48 quilos, que é o que a maioria das tops pesa. Lizzie não é  um varapau — atua no mercado das modelos “plus size”, ou seja, de  tamanhos grandes. Veste manequim 42, um insulto ao mundo das anoréxicas.  
 A  foto me despertou sentimentos contraditórios. Por mais que estejamos  saturados dessa falsa imagem de perfeição feminina que as revistas  promovem, há que se admitir: barriga é um troço deselegante. É falso  dizer que protuberâncias podem ser charmosas. Não são. 
 Só  que toda mulher possui a sua e isso não é crime, caso contrário,  seríamos todas colegas de penitenciária. Sem Photoshop, na beira da  Praia, quase ninguém tem corpaço, a não ser que estejamos nos referindo a  volume Se estivermos falando de silhueta de ninfa, perceba: são três ou  quatro entre centenas. E, nesse aspecto, a foto de Lizzie Miller serve  como uma espécie de alforria... Principalmente porque ela não causa  repulsa, ao contrário, ela desperta uma forte atração que não vem do seu  abdômen, e sim do seu semblante extremamente saudável. É saúde o que  essa moça vende, e não ilusão. 
 Um  generoso sorriso, dentes bem cuidados, cabelos limpos, segurança,  satisfação consigo próprio, inteligência e bom humor: é isso que torna  um homem ou uma mulher bonitos. Aquelas meninas magérrimas que ilustram  editoriais de moda, quase sempre com cara de quem comeu e não gostou (ou  de quem não comeu, mas gostaria), é apenas isso: magérrimas... Não  parecem pessoas felizes. Lizzie Miller dá a impressão de ser uma mulher  radiante, e se isso não é sedutor, então rasgo o diploma de Psicologia  que não tenho. Ela merecia estar na primeira página, mas, mesmo tendo  sido publicada na 194, roubou a cena. 
 Que reação à foto causou em você?
 Repúdio ou alívio?
 Texto: Martha Medeiros 






